Insensivelmente racionais

Há diferenças

Entre o mundo

Que os teus pés pisam

E o mundo

Que os teus olhos veem.

Já perguntaste ao chão

Se as pisadas tuas doem?

Não, é claro...

Não és louco:

"E chão não fala..."

...

Pois todos somos

Insensivelmente racionais.

Porém o mundo seria melhor

Se todos nós fôssemos

Uns sensivelmente loucos...

Mas não!

Temos que ser

Insensivelmente racionais.

Ninguém pergunta à cama

O tamanho de seu esforço...

Cama não fala!

E somos insensivelmente racionais...

Porém todos os olhos

Querem a felicidade

E são incapazes de enxergar

O mundo que existe

Sob os seus pés.

Tu, leitor sonhador de todas as coisas,

Perguntaste à parede como anda

A vida dela?

Achas fácil a missão de ser absorvente

De todas as tuas mágoas,

Decepções, desilusões?

Experimenta perguntar,

Ao menos um afago

Destina a tua parede...

Serei considerado mentiroso,

Mas arfimo:

Não existem coisas inanimadas

E sim coisas consideradas inanimadas.

Eu vejo uma porta sorrir todos os dias,

Enquanto enxugo os prantos

De minha parede

E curo as feridas do meu chão...

Insânia minha?

Talvez...

Antes um louco

Do que um insensível...

Os loucos sorriem

E felicidade não depende

De lucidez...

Temos um bêbado e um jornalista

E eu te pergunto:

Em qual boca viste mais sorrisos?

Ah, leitor, conversa logo com tuas coisas...

Agrada o chão.

Afaga a tua parede.

Conversa com a porta.

Chora junto com teu lápis.

Serás chamado por "Louco"

E viverás feliz...

Eu, amigo...

Prefiro ser sensivelmente louco

A ser insensivelmente racional.

Em séculos modernos!

E nunca fomos tão sós

E tão insensíveis...

O mundo que os nossos olhos avistam

É diferente do mundo

Que está sob nossos pés!

31/12/2012

Innocencio do Nascimento e Silva Neto
Enviado por Innocencio do Nascimento e Silva Neto em 31/12/2012
Reeditado em 06/01/2013
Código do texto: T4061712
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