Albergado
As vielas do mundo detalhei
E de repente recolhido vi-me
Vivendo em Casa de Albergado
Pelas vias vilas onde passei
Surpreendeu-me, sim, o decreto
Constrição de horizonte e espaço
O cinza e o amaro do dia-a-dia
Menos porém, quando apenas sou
Entre quadros, esquemas e horários
Cromáticos sonhos, matizes do dia
Hoje a diluir-se no sol que entra
Nesta manhã que em sóis se reparte
Quem me tornei na imensa máquina
Da Justiça, vagando entre peças
E logaritmos de minha parte
Sigo entre rostos já não amáveis
Flagrando estrangeira entre todos
A culpa e os clamores do passado
Eu, que castelos tantos conheci
E outros ergui, no sonho do mundo
Conto as moedas da liberdade
Nas densas noites em que a mim mesmo
Elegi companheiro em lembranças
Pincelam-se sombras em quadros
Em portas cerradas comparou-me
O negrume de meus pensamentos
À inconstância de meus passos
Uma vez revelado o tesouro
Onde estaria meu coração
Com o desvio mantive o noivado
Mas no caminho o que desprezei
Oportunizou a transmudação
Do que sou neste modo amargo
E pelas noites que tenho a cair
Sobre mim por ininquidades
Príncipe sou em meus próprios fins
Se este protótipo do que formarei
Entre os brutos vem consumir
O frio autômato a me albergar.