Albergado

As vielas do mundo detalhei

E de repente recolhido vi-me

Vivendo em Casa de Albergado

Pelas vias vilas onde passei

Surpreendeu-me, sim, o decreto

Constrição de horizonte e espaço

O cinza e o amaro do dia-a-dia

Menos porém, quando apenas sou

Entre quadros, esquemas e horários

Cromáticos sonhos, matizes do dia

Hoje a diluir-se no sol que entra

Nesta manhã que em sóis se reparte

Quem me tornei na imensa máquina

Da Justiça, vagando entre peças

E logaritmos de minha parte

Sigo entre rostos já não amáveis

Flagrando estrangeira entre todos

A culpa e os clamores do passado

Eu, que castelos tantos conheci

E outros ergui, no sonho do mundo

Conto as moedas da liberdade

Nas densas noites em que a mim mesmo

Elegi companheiro em lembranças

Pincelam-se sombras em quadros

Em portas cerradas comparou-me

O negrume de meus pensamentos

À inconstância de meus passos

Uma vez revelado o tesouro

Onde estaria meu coração

Com o desvio mantive o noivado

Mas no caminho o que desprezei

Oportunizou a transmudação

Do que sou neste modo amargo

E pelas noites que tenho a cair

Sobre mim por ininquidades

Príncipe sou em meus próprios fins

Se este protótipo do que formarei

Entre os brutos vem consumir

O frio autômato a me albergar.

Luconail Belz
Enviado por Luconail Belz em 26/12/2012
Código do texto: T4053304
Classificação de conteúdo: seguro