Desabafo d'um Morto
Aquelas flores tão bonitas
Enfeitando minha urna
Minhas narinas estavam aflitas
Ao ridículo me expunha
Ainda estava preso à matéria
Não conseguia me desligar
Mesmo sabendo da forma etérea
Energias pesadas pareciam me pregar
Lá pelas tantas da madrugada
Ainda ouvia o choro dos parentes
O desespero no coração da amada
E também ouvia tantos descrentes
Até os calados eu podia ouvir
Seus pensamentos não eram segredo
E tudo isto me dava grande medo
De absurdos poder escutar
Alguns não pensavam em nada
Outros nem ali queriam estar
Outros maldiziam a vida errada
Outros me davam mal estar
Isto era muito mais do que castigo
Conhecer a realidade oculta
Eu que travara tantas lutas
Nesta eu não podia lutar
Senhor Deus, por misericórdia.
Livrai-me deste terrível momento
Minha família está em discórdia
E por mim vejo pouco sentimento
Sei que de tudo isto sou merecedor
Mas Pai te peço complacência
Derrama sobre mim Teu amor
E leva para junto de ti minha essência!