A MINHA CONFISSÃO

CONFESSANDO-ME A DEUS

Senhor,

Eu sei que Você sabe dos fatos, das coisas,

Muito, muito além do que possa ser imaginado,

Mas, como a população aumenta

E a sua área de ronda é tão extensa,

Talvez nem todas as minhas transgressões doidas

Estejam inclusas no volumoso Diário dos Pecados.

Por isso, eu me abro, me desembaralho.

Dedico-Lhe, ao menos, esta migalha,

Esperando que a recompensa “quebre o galho”

De rabiscar parte dos meus excessos e das falhas.

Aqui, eu transformei a crença em comédia.

Da comédia fiz o humor virar antipatia

E consenti que ela me atasse às rédeas,

Para que eu também puxasse a carga da desvalia.

Aqui, eu recusei fumar o cachimbo da paz;

Arremessei o amor e a compreensão num labirinto

E, enquanto seus adeptos julgavam-No tão capaz,

Eu fazia de Você algo falido e extinto.

Senhor...

Eu paro, penso, repenso.

Aprofundo-me no confessionário das revelações

E pergunto a mim mesmo:

Como pude desligá-Lo do pensamento,

Se esse é um descrédito,

Um decréscimo que me põe a esmo

E gera a pior das conclusões.

Aqui, eu mantive distância dos pobres,

Considerando-os o retrato-vivo da imundície,

Só porque eu tinha alguns níqueis, alguns cobres,

Obtidos através da minha costumeira vigarice.

Aqui, eu fui racista até no luto da viúva negra;

Trafiquei tóxicos ao invés de distribuir pães

E senti nojo ao me sentar à mesa

Para comer no prato,

Anteriormente, usado pela minha mãe.

Aqui, eu achei que prece

Era assunto pra moleque.

Que procissão era o desfile da ilusão;

Que a santa missa

Era só para tirar o padre da preguiça,

Entretanto, hoje,

Ele, espiritualmente, é um gigante

E eu menor, bem menor, que um anão.

E agora, Senhor?

E agora?

Para onde eu iria

Se daqui a pouco eu fosse embora?

O que eu faria,

Se o Expresso do Diabo passasse e me levasse,

Tal como faz a carrocinha

Ao recolher os cães vadios

Ou se Você chegasse e me mostrasse

O asfalto do SEU CAMINHO

E as valetas dos meus desvios?

Mas, quem sabe ainda haja tempo.

Tempo para desistir dessas besteiras.

Tempo para adentrar no rumo certo.

Tempo para varrer toda a sujeira,

Depois de se ouvir o aviso,

O recado formulado pela consciência arrependida:

“– Adiante vou tê-Lo junto, por perto,

Nem que esta seja a última coisa

Que eu tenha a fazer na vida”!

Odair Rizzo
Enviado por Odair Rizzo em 29/10/2012
Código do texto: T3957398
Classificação de conteúdo: seguro