O Quarto
Madrugada gris
Em mim o medo
Oculto e silencioso
Minhas palavras
presas no torno
Onde o pó do que sinto
Viaja para a plantação de algodão
De onde ao longe
Vejo meninos - raias serem levados pelo vento
Pra bem longe o meu adeus !
Para bem longe o meu eu
Eu quero ficar neste canto
Que é o meu canto intocável e seguro
Eu quero ficar aqui
Mesmo sem o seu abrigo
Emparedado empoeirado e espalhado
Eu quero ficar no meu mundo
Não toquem em nada !
Está tudo cuidadosamente guardado em minha cabeça
Vem ! Vem ! ouçam esta canção !
Vejam aquelas revistas pelo chão ...
Leiam estes papéis por sob a cama
Tem fotos , livros , discos ... tá tudo por aí
Todas essas coisas serão dispersadas por mim
Ainda sinto as mesmas vertigens
Talvez minha vaidade emudeça
Essas coisas estranhas continuam acontecendo
E mesmo que tente não conseguirei explicar
Por vezes não sei quem sou
Não sei onde estive
E quando percebo a luz
Meus olhos sorriem com a escuridão
Vou tentar acordar e esperar
Os meninos raias com um prazer arcaico de brincar .