O DOM DA GRATIDÃO
( Diabo, vê se você não me atrapalha, com alguma falha, nesse fran-co agradecimento que ora faço ao seu Oposto. Caso contrário, como castigo pela intromissão, terá que ir para o canto e ficar ajoelhado sobre o torturante monte de milho, que está lá no chão! )
Mestre,
Apesar da teoria
Que dá sustento ao prosseguimento.
À volta, ao retorno, ao ressurgir um dia;
Que a ‘passagem, o chamado, a partida,’
Pode não ser a eterna despedida,
Eu quero, antes que Você
Me leve daqui;
Antes que se dê
O desvendar desse suspense,
Agradecê-Lo pelo mais belo presente:
Por ter me agraciado com o oferecer da vinda.
Com a existência que é a dádiva mais linda
E por tudo de bom proveito
Que tenho – e me foi – feito,
Sem que, nesse período,
Eu tenha ficado ‘perdido’ por aí.
Grato, Senhor,
Por eu poder louvar a Sua presença.
Pela crença, pela fé que orienta;
Por essa intensa adoração que detenho.
Por Lhe ser um defensor ferrenho,
Enquanto a interna ‘briga’
Do - afinal, para onde vou
E quem e o que sou eu?
É uma desavença introspectiva
Que tanto intriga
O arredio que ainda não Lhe ouviu:
O incrédulo, o descrente, o ateu.
Grato, Pai,
Pela humildade que me foi confiada
E que não declina, decresce, decai.
Por ser um sujeito que empurra
A tola ostentação com uma surra,
Enquanto, a manchar o limpo ‘manto’
Num turvo poço profundo,
Há quem que não é quase que nada,
Mas que, petulante, arrogante,
Põe-se tanto nas alturas
E, com o desafiador semblante,
Intitula-se o ‘espaçoso’ dono do mundo,
Quando se sabe evidente o bastante
Que, na verdade,
O baita metido é um tanto fraco,
Um simples frouxo.
É uma desfeita à grandiosidade do planeta.
Uma gotinha do vinho do garrafão.
Uma mera migalha do pedaço de pão.
Da extensão da areia, apenas um grão.
Do tudo, todo um só muito pouco.
Obrigado, Criador,
Pela mobilidade, a audição,
A visão, a dicção
E o sensato discernimento das coisas.
Que, de imediato,
No instante em que se quer,
Entram em ação;
Quando, infelizmente,
Muitos semelhantes
Provando alguma intercessão
Mais séria na matéria
E/ou sem a mente sã,
Não detêm agora idêntica atuação
E, talvez, sequer amanhã;
Nas outras datas que virão.
Grato, Benfeitor,
Por eu não ser portador
De nenhum preconceito...
De raça, de credo, de cor.
Pela não discriminação
Que jamais me fez fazer feio.
Que é um perigoso artifício
Que arranha a alma,
Que fere o espírito.
...Uma assustadora emboscada
Para si mesmo armada,
Em meio à encruzilhada difícil,
Que estraga o decorrer do bom passeio.
...E, sendo assim,
O cumprir da minha missão
Pode ou não estar próxima do fim.
Porém, como há a exclusividade
Do só Você que sabe:
Até muito tempo depois disso
Ou até logo mais, então!
Poema inédito de autoria do escritor
catanduvense Odair Rizzo
e-mail: rizzo.3004@terra.com.br