Velai por mim, Senhor!
Dando-vos graça pelo que sois,
Senhor meu,
eu vos invoco
nesta hora em que minhas forças
sentiram o peso de uma quase derrota.
Talvez eu já não tenha o mesmo vigor,
tampouco os mesmos sonhos...
Mas ainda existe no peito
um coração que pulsa,
que quase pára ou acelera nas farpas da dor
e nos maremotos da desilusão.
É por este coração que vos peço
pois sabeis que, dentro dele,
conservadas estão
e em franco desenvolvimento,
as sementes que, em princípio, lançastes,
embora necessitem de um vigor constante,
de um renovar atento e cuidadoso,
de mudanças indesejáveis mas obrigatórias
para que os rancores e a intolerância,
nem por um minuto, se acerquem
desta árvore ainda fértil,
cujos frutos precisam da potência dos adubos
para viver por si próprios,
com a mesma garra de quem os gerou.
Não permitais, Senhor,
que a seiva se esgote
antes do cumprimento de todas as suas obrigações
e possa gozar da alegria do dever cumprido.
Perdoai, Senhor,
as falhas cometidas nesta longa caminhada,
os momentos em que o orgulho e a vaidade
se mostraram presentes em gestos e atitudes
não condizentes com o amor e a humildade.
Perdoai, Senhor,
se em algum momento
os desejos foram maiores que os méritos,
se a decepção causou cansaço na caminhada,
se a vontade tremeu diante das dificuldades,
se o pranto cobriu, por minutos,
a visão da verdadeira beleza
que reside no fato único de "poder ser",
se ventos adversos causaram estragos
que poderiam ser evitados,
bastante que fosse a fé.
Então, Senhor,
eu vos peço
que não permitais que as intempéries
sejam mais fortes que a força do querer,
que as provas sejam mais difíceis
do que o conhecimento que se pode obter,
e, sobretudo,
que não esmoreça a vontade
de fazer de cada ato
uma expressão de verdade, justiça e amor.