De mãos postas
Suas mãos estão postas,
juntas e ungidas em oração
Sua fisionomia contrita,
olhando para dentro de si mesmo
E como numa nau em plena borrasca
Suas lágrimas oblíquias seguiam retas até a boca
Como se quisessem molhar as palavras áridas de som
Seu profundo silêncio
Escrito na caligrafia da tez branca- rosácea
Fazia-me levitar, empinando pensamentos mortos
Passados em branco, diante da luz do dia.
A dor, o infinito e o mistério
Eram o tripé que lhe erguia dentro do templo
As imagens santas se entreolhavam
Questionando a cruz, os cravos e a fé.
A paz intrínseca dos que rezam
E a cumplicidade de todos que sofrem
E morrem na retidão da esperança.
Com as mãos postas
Que seguram a paz e as dádivas.
Que guardam a eternidade
Somos todos pedintes.
Somos todos adotados pelos corações alheios.
Pelos afetos de estranhos ou conhecidos.
Que se avizinham e se afeiçoam.
Somos todos mortais e finitos
E na imensa vastidão do destino
Nos reconhecemos nas cruzadas
enigmáticas.
Nas perdas e nos encontros
Nas tréguas e nas guerras
a lutar em silêncio, com armas ou
desarmados
Com escudos, redomas ou desnudos.
Por um pouco de paz,
Por um pouco de amor ou afeto
Por um pouco de paradoxo e magia.
Esperança mesmo depois de chegarmos a ômega.
Renascer mesmo depois de chegarmos em alfa.
Estamos entregues
aos pedidos silenciosos
de mãos postas,
de corpo combalido
E de dores incuráveis pelo tempo.
Mas sob os curativos da fé.