De mãos postas

Suas mãos estão postas,

juntas e ungidas em oração

Sua fisionomia contrita,

olhando para dentro de si mesmo

E como numa nau em plena borrasca

Suas lágrimas oblíquias seguiam retas até a boca

Como se quisessem molhar as palavras áridas de som

Seu profundo silêncio

Escrito na caligrafia da tez branca- rosácea

Fazia-me levitar, empinando pensamentos mortos

Passados em branco, diante da luz do dia.

A dor, o infinito e o mistério

Eram o tripé que lhe erguia dentro do templo

As imagens santas se entreolhavam

Questionando a cruz, os cravos e a fé.

A paz intrínseca dos que rezam

E a cumplicidade de todos que sofrem

E morrem na retidão da esperança.

Com as mãos postas

Que seguram a paz e as dádivas.

Que guardam a eternidade

Somos todos pedintes.

Somos todos adotados pelos corações alheios.

Pelos afetos de estranhos ou conhecidos.

Que se avizinham e se afeiçoam.

Somos todos mortais e finitos

E na imensa vastidão do destino

Nos reconhecemos nas cruzadas

enigmáticas.

Nas perdas e nos encontros

Nas tréguas e nas guerras

a lutar em silêncio, com armas ou

desarmados

Com escudos, redomas ou desnudos.

Por um pouco de paz,

Por um pouco de amor ou afeto

Por um pouco de paradoxo e magia.

Esperança mesmo depois de chegarmos a ômega.

Renascer mesmo depois de chegarmos em alfa.

Estamos entregues

aos pedidos silenciosos

de mãos postas,

de corpo combalido

E de dores incuráveis pelo tempo.

Mas sob os curativos da fé.

GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 01/05/2012
Reeditado em 12/03/2018
Código do texto: T3644430
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