"despedida"
Vamos... diga o que queres... não vês que estou partindo?
Não percebe minha pele pálida, sem vida a confundir-se com os lençóis?
Meu olhar fixo e lento quase entregue a sorte?
O sangue cáustico, já não circula mais como antes.
Vamos... chegue mais perto.
Segure minha mão, dê-me alento, mesmo que seja por pouco tempo.
Não venhas dizer-me para lutar; estou nas mãos do destino;
Em outros momentos, fui guerreira, segura e firme.
Sempre desafiei a vida brindando com muito humor e sabor.
Quando chegar a hora, estarei preparada.
Tens razão de achar tudo isso uma loucura.
É incompreensível; não é comum.
Vamos... ainda não disse a que veio?
Não tens assunto?
Não queres falar-me?
Pois bem; fique aqui, sua presença ainda que em silêncio me basta.
Silêncio... respiração ofegante... luzes, muitas luzes invadindo o quarto.
Já não sinto mais meu corpo; estou sem forças.
A voz... teima em sussurrar algumas palavras curtas.
Necessito na despedida pedir perdão.
Por muitas vezes, a ignorância tapou meus ouvidos;
Cegou-me e não percebi o quanto és maravilhoso.
Uma bondade sem fim; celestial.
Perdoe-me por tudo que deixei de fazer;
E perdão por tudo exageradamente que fiz.
Seus conselhos, suas dicas, não percebi nada... nada.
Por isso, estou pagando caro.
Misericórdia Senhor!