Flor no Chão
Vivo encantado com um soneto que li.
Despertei, chorei, quebrei paredes por sonhar.
Encurtei distâncias só de olhar pra ti.
Agora estou aqui, na ponta desta a me despojar.
Uma flor atirada ao chão. Nada me vem.
Jurei não fazer gracejos. Alguém soletra.
Aga ére pê tê vê, como se não soubesse ler.
Perdi a inspiração. Tudo se vai. Amém.
Sempre estive aqui. Por vezes mudo e discreto.
Vou e volto. Sou pai, tio avó por mil vezes bisneto.
Não cego de esconder. Translúcido ser, ei de ser.
Sem mais partir, ao teu lado ficarei.
A vida voa. O pássaro voa leve, pleno.
Vejo-o no viés. Inflama a marginação.
O olhar persegue, perde-se na mansidão.
Vertigens de beber ar, peito inchado e tolos pés.
Pedra polida e cunhada, facetada de saber.
Eu sei que saudade não se apressa.
Eu sei que verso não se avessa.
Perpetrada estará à dor do querer.
Contínuo chão. Caminho pisado disforme.
Direito firme marcado, esquerdo mancado.
Caminho sodado, de olhares passados.
Semeei flores, chorei dores para estar aqui.
Hoje me falta calma, me falta alma.
Encanto-me então com o soneto.
Antes de partir.