Essencial

Na janela a dobradiça e na nuvem o vapor.

Da flor o perfume, da noite o negrume e do dia a cor.

Do vento o calor, do banco o acento e na brisa o frescor.

Na cana o bagaço, no sapato o cadarço, do chão o rubro odor.

No susto o cagaço, do cansaço o suor e da denuncia o delator.

Do rio o regato, da agua a gota e no prego a estopa.

No amargo o doce, do olhar o zumbido e do tiro o estampido.

Da arvore o porte, na pisada a sorte e da direção o sentido.

No templo o altar, do manjar a sopa, da bebida o sabor.

No monge o hábito, na novidade a surpresa, da notícia o relator.

No jogo o gol, da erva o amargor e do leite o queijo.

Na morte o estupor, na porta a fechadura, da paixão o beijo.

Na denuncia o algoz e no pecado o porta-voz.

Da janela a vidraça, no prego o comprimento e da novidade a graça.

Da brincadeira a pirraça, da cana a cachaça e do medo à ameaça.

No casamento a mulher, na família a filha e no vestido o viés.

No tiro a pontaria e na notícia a alegoria.

Da porta a abertura, da nuvem o tom e na direção à ousadia.

No leite o coalho, no manjar a roupa e da arvore o galho.

Na bebida a embriaguez, do jogo a solidez e no chão o soalho.

Da conta o conto e na compra o desconto.

Do limite o início, da agulha o orifício e na costura o pesponto.

Na cortiça o entremeio e da construção o esteio.

Da verdade a profecia, do carnaval a folia e no círculo o meio.

Na erva a cura e na flor a frescura.

Do tempo o cansaço, da idade a experiência e na paciência a virtude.

Do sobejo a liberdade, do estar o lugarejo e no andar a lonjura.

No amor a quietude, no vinho o carvalho, do orvalho a plenitude.

Da guerra o vencido e na amizade o apelido.

No aço a dureza, no dia-a-dia a gentiliza e no crime o bandido.

Na vida o tempero, da sobrevivência o medo e da chave o segredo.

Do pináculo o prumo, do resumo a crase e na mão o dedo.

Essencial no exílio é a piedade.

No verso o reverso, não a maldade.