o soneto cigano
o carro vinha correndo
ele vinha escrevendo
quando o sinal vermelho aparecia
ou quando procurava o acostamento
muito do seu sentimento
foi para aquele soneto
o mais lido de todos
é o que ele queria
ou o que sempre achava
o último sempre o melhor
mesmo que alguém duvidasse
o que não seria anormal
mas esse soneto, esse tal
que agora a janela furtava
por golpe de alguma ironia
ele se insandecia
parando o carro aos poucos
saltando pro meio da estrada
atrás de uma simples folha
um pedaço de papel
dois momentos
(1)
achou a folha entre os carros
que gentilmente pararam
preservação do tesouro
palpável e consumível
(2)
achou o impacto infalível
de um carro desgovernado
papel e ele amassados
os dois irreconhecíveis
Rio, 26/06/2006