O ALÉM DE MIM

DOS SONHOS QUE BROTAM ESTÉREIS DA ALMA MAGOADA,

EU SOU A ILUSÃO DA MEIA-NOITE,

QUANDO OS VIVOS DORMEM E A VIDA BRUTA ESCORRE

POR ENTRE OS MEUS DEDOS MAGROS,

OU NOS SOLUÇOS QUE SACODEM A HASTE DESTA FLOR MURCHA.

DAS TRISTEZAS E ENGANOS QUE NASCEM DAS QUEDAS,

EU SOU O VENTO QUE ESPALHA AS FOLHAS SECAS DA AMARGURA,

NO ESGOTO DE UM ESQUECER QUE NUNCA ESQUECE.

TODA RECORDAÇÃO É FERIDA FÉTIDA NO ESPÍRITO ENCARCERADO.

DAS LOUCURAS E DO VAZIO QUE SURGE DO PENSAMENTO,

EU SOU O NADA QUE ESPANTA O INÚTIL DE EXISTIR,

QUANDO A VIDA CRUZA OS BRAÇOS,

QUANDO A RAZÃO SE PERDE NO NADA.

DE TUDO QUE SE FAZ GRÁVIDO NO VENTRE

DO MUNDO CADUCO, DE UMA HUMANIDADE CARCOMIDA,

EU SOU O POETA, ALMA DESTEMIDA DO IDEALISMO...

DA POESIA QUE FAZ O POETA,

EU SOU A INSPIRAÇÃO FUGIDIA,

QUE CHEGA SORRATEIRA E ME DIZ COISAS BELAS,

DEPOIS, REPENTINA, ME FOGE PELA JANELA.

DOS HOMENS QUE ANDAM DE OLHOS FECHADOS

EU SOU O ABISMO, O BURACO-NEGRO DO SEU UNIVERSO.

COMO UM ÉDEN MALDITO, EU OS ATRAIO,

CORDEIROS IMOLADOS DE CARNE APODRECIDA.

EU MATO A TODOS, TODOS OS DIAS

E OS VOU CONFINANDO NO CALABOUÇO DA INEXISTÊNCIA.

DAS HORAS ESTRANGULADAS,

EU SOU A REVOLTA DOS OLHOS ESBUGALHADOS,

EU SOU A TORTURA DO CÉREBRO QUE LUTA PARA PENSAR,

EU SOU O SANGUE QUE FERVE NAS VEIAS,

EU SOU O COLAPSO DO DESEJO DE ROMPER O CERCO,

DE SAIR CORRENDO RUMO A TERRA DOS OBJETOS PERDIDOS

PROCURAR O BONÉ DA JUSTIÇA.