POESIA PAGÃ
Não pense que os deuses inspiram
àqueles que fogem do mundo.
Parte de toda palavra advém dos demônios,
cáusticos seres unidos a espíritos de vivos
mortos por vícios e desejos feridos, imundos,
solitários e inconsolados...
São estes os poetas do corpo perdido,
da alma iludida,
do ventre vazio de ânimo,
e da mente ceifada de sonhos.
Os deuses se apegam àqueles
de cuja alma emana fogo
além do corpo-invólucro
que a tudo prende no pesar,
que a tudo olha por não ter
e se esquece, até mesmo
do mais humilde prazer
de a tudo poder olhar.
Espíritos livres e libertários
que tornam os versos
em rústicos sacrários,
recebem o sopro divino
dos entes, uníssonos
num corpo imaterial,
ávidos do néctar mais puro,
da mais doce ambrosia
presentes no verbo acalentado
por mentes em estado natural.
Num ato de franca apostasia
amam a tudo e anseiam ser amados
sem, contudo, exigir-lhes o ideal.