BOA NOITE

BOA NOITE

Era uma noite triste, uma noite chuvosa, quando a notícia chegou soturna e dolorosa, à casa do pastor.

“ No centro da cidade houve um grande desastre, uma fatalidade, um ônibus bateu num bonde e deste choque saiu muito ferido o reverendo Roque, e de lá do hospital lhes envia um apelo para irem visitá-lo irem depressa vê-lo,

Porque talvez não torne a ver a luz do dia...”

Que notícia infeliz! Que noite amarga e fria!...

Quatro filhos e a esposa ergueram-se da mesa,

Movidos pela dor da trágica surpresa,

E saíram correndo em busca do hospital.

Entraram no seu quarto; o pastor fez sinal.

Para chegarem perto; e a cada qual falava

Com o terno olhar de quem a todos venerava.

Dirigiu-se primeiro à esposa mui querida:

- Companheira fiel de toda a minha vida,

Juntos temos andado, e pela mesma causa

Trabalhamos com fé, sem um dia de pausa...

Hoje como no dia em que te desposei,

És a mesma mulher e amiga a quem amei

E amo com o mesmo ardor dos meus vinte e dois anos.

Como haverei de amar-te nos celestes arcanos...

Boa noite, esposa amada!

Outra vez nos veremos,

Quando juntos, no céu, ao Senhor louvaremos.

E a ti, Maria, que és minha primeira filha

E foste o meu prazer, seguindo a mesma trilha.

Boa noite, filha! Agora em paz com Cristo vai

E não te esqueças mais do meu amor de pai!...

Boa noite, meu Guilherme!

O filho dedicado,

Tua vida de fé em nosso lar sagrado

Foi o mais belo exemplo, a melhor recompensa,

Que Deus me concedeu à luz de minha crença.

Sê o protetor de tua mãe e irmãs!

Célia, filha extremosa e

Cândida, boa noite!

Foste uma luz na treva, um bálsamo no açoite,

Da ingratidão do mundo...

Ah! Me recordo agora

Daquele instante bom, daquela ótima hora

Em que rendeste a Deus tua alma arrependida,

Deixando-a ao seu dispor pelo resto da vida...

Mais uma vez: Boa noite, ô filha dedicada:

Que o Senhor te conserve em sua obra sagrada!...

Carlos - terceiro filho – olhou o pai, sentido,

Porquanto à irmã mais moça o havia preferido...

E o motivo lhe vinha inexoravelmente,

Ao triste coração, à alma convalescente:

Fora, a tempos passados, um bom servo da seara,

E ao lado do pai, ativo trabalhara...

Mas companheiros maus e a péssima influência

De colegas sem brio, arparam – lhe a consciência.

Fazendo – o recuar na batalha do amor

E apóstatas da fé em Deus, nosso Senhor.

Chegou mais perto e ouviu o pai riste dizer:

- Adeus, Carlos! Adeus! Fugiste ao teu dever!

Eu quisera poder falar-te as mesmas coisas que disse à tua mãe e irmãs...

E tu nem ousas encarar-me...

Esqueceste os bons conselhos meus...

Porém eu te amo ainda!...

Adeus, Carlos! Adeus!...

Carlos caindo aos pés do leito,

Soluçando, perguntou: - Pai, por que aos outros, osculando, você disse “Boa noite”, e a mim só disse “Adeus”?

- É que os outros, meu filho, espero-os lá nos céus,

Para entoarmos a Deus, por nossa salvação

O cântico eternal da nossa gratidão!

- Meu pai! ( Carlos confessa em lágrimas de joelhos )

Eu prometo a Jesus seguir os seus conselhos!

Eu já me arrependi! Eu lhe falo a verdade!

Vou dedicar a Deus a minha mocidade.

Servi-lo para sempre!...

Assim sendo, meu filho, posso agora dizer, sem nenhum empecilho:

Boa noite! E que o Senhor te guie e te proteja

No aconchego do lar, no serviço da igreja!

Boa noite, filho meu!...

E, tendo dito isto, suavemente expirou e descansou em Cristo.

Ó tu que andas gastando a tua mocidade

Nas orgias do mundo ou na incredulidade;

Tu que buscas na ciência ou na filosofia

Explicação para a alma ou para a matéria fria;

Tu que não crês em Deus, nem na vida futura;

Tu que vives sofrendo ao peso da amargura;

Ou tu, que já seguistes o caminho da cruz

E hoje negas, sem fé, o nome de Jesus:

Para! Volta! Que a morte horrenda e traiçoeira

Pode cortar-te ao meio e aligeira

Carreira para o desconhecido!...

- Então o eterno Deus apenas te dirá :

- Ó filho ingrato, adeus!

Porém se arrependido e em lágrimas voltares

Ao aprisco de Deus, ao regaço dos lares, Ele então te dirá cheio de paz e amor:

- Boa noite! Entra afinal, no gozo do Senhor!

Lauro Bretone

Wilsomar dos Santos
Enviado por Wilsomar dos Santos em 17/06/2011
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