Resposta de um pescador
de Edson Gonçalves Ferreira
para Pinhal Dias
I
Perguntastes, ó poeta, se o pescador pescou sardinha
Depois que ele joga a rede, não escolhe peixes
Como o Senhor mandou, ele só obedece
E olha os céus, pedindo benção
E, quando recolhe a rede, agradece
Agradece até os peixes graúdos que rasgam a rede...
II
Nesta vida, meu amigo, pescador simples sofre
Não consegue peixes grandes
O mar da vida é tão revolto quanto os oceanos em fúria
E com sua embarcação simples, o pescador sofre
E já é milagre quando consegue pescar as sardinhas
Para a ventura do voltar a casa quando consegue.
III
Assim como Cristo mandou, o pescador desvia,
Desvia, às vezes, do seu mister
Tenta pegar humanidade e não peixes
E, quantas vezes, ele se perde nas tempestades em terra
Mais furiosas que as que enfrenta no mar
Os peixes vorazes dos oceanos humanos são terríveis
E não respeitam homens íntegros
Como os pescadores de humanidade.
Divinópolis, 01.06.2011
Poema do pescador
de Edson Gonçalves Ferreira
para Eugênio de Sá e Susana Custódio
I
Pescador, meu pescador,
Teu ofício é tão sagrado e tão cruel que me assusta
Tu atravessas as águas profundas dos mares
Sabes ignorar o perigo das criaturas
que infestam as águas profundas
Mas não tão profundas quanto as águas da injustiça
Sim, essas que te colocam nesse desafio infindável...
II
Ah, quantos mares navegados!
Ah, quantas venturas olvidadas!
Ah, quantas desgraças marcadas!... Só tu sabes
E nós, ó pescador, não sabemos
E como não sabemos
Quanta lágrima tempera o peixe que comemos
E até o sal do bacalhau tem vestígio do teu suor
E das tuas lágrimas por nós ignoradas...
III
Meu poema, pescador, não é tão bom e tão fecundo
Como são os peixes que tu trazes para a minha mesa
Aqui, aqui bem distante, onde não existe mar
contornando meu estado, minha cidade
Eu viajo, porém, nas lágrimas que tu derramastes
quando saístes para pescar
Certo da ida e não chegada.
Divinópolis, 31.05.2011