Pudera o amor ser tão sentido quanto a dor?
I
Cabem em todos aqueles danos os teus sonhos
Onde tu, e somente tu os abasteis,
E que desvanecem em cada causa - teus motivos,
Onde despeitava aquele ser-teu, e adormeceis;
Mas, tão loucamente, se faz e se desfaz dos vivos,
Se desama e se recolhe da noite
Como num frio de verão na alma, num instante.
II
E no quanto podeis doer aquela tua solidão,
Tão profunda quanto a tua sede de amor?
Mais que no teu esgoelo de endemia de paixão
Alimentas aquele sentido das noites sem calor,
Vazias, tão vazias, quanto sem valor,
Mas que deleita teu querer em nostalgia
Breve como as manhãs de tua alma fria.
III
Quem te aqueça, aqui sentiras tua dor;
Nesta vida, ou nas repelidas e desalmadas,
Mas o que restará a ti do que não seja amor?
E de que se alimentará daquelas almas
Aquela tua dor que te atenua,
Que no coração te acua,
Sem que encontre daquele hospedeiro
O mais breve desamor passageiro?