Sombreado
fogo forte
faz o clarão
riso faceiro
pé do pinheiro
sob essa árvore
a sombra reduz
a minha pujança
o meu corpo nu
subo na sombra
atrás de esperança
mas escorrego
no verde da folha
ergo aos céus
um gesto, uma súplica
mas o que vejo
é um velho avião
caio no chão
as flores debocham
mas uma me dá
um beijo e se vai
olho pros lados
o nevoeiro
me pede de novo
pra ler o jornal
passa um menino
todo de azul
será o Chalalá
ou uma invenção?
outro menino
todo de branco
traz a cabeça
do mundo entre as pernas
e a formiga
segue solene
pro seu casamento
com o jovem Jamel
levanto-me aflito
não acho os sapatos
foi o gafanhoto
que os escondeu
a sombra no mato
agora ignoro
a chuva de fato
é o que imploro
a sombra da árvore
ainda me fala
pra não desistir
não lhe dou ouvidos
ainda o que quero
é o abraço infantil
de alguma Teresa
pois sou imbecil
Rio, 07/05/2006