A morte do anjo
O enterro do anjo
Tinha apenas seis meses
Quando adoeceu
Passaram em seu corpo
Milagroso ungüento
Chamaram tia Rita
Que entende de rezas
Chamaram pai velho
Para a casa benzer
O padre negou-se
Para que a unção
É um anjo que parte
Ao encontro de Deus
Aspergiu com água benta
A pobre criança
Que ao ser respingada
Por susto ou por mágoa
Parou de gemer
Disseram as comadres
Que ao anjo velavam
Foi culpa do padre
Que não quis benzê-lo
No dia seguinte
Ao cair da tarde
O povo da vila
Em fila indiana
formava o cortejo
Que levava o anjo
Na frente as crianças
Nas mãos flores mortas
Durante o trajeto
Em todas as portas
Uns trapos pendidos
Imitavam bandeiras
De todas as cores
De todas as formas
Por que um anjo não
Tem pátria ou nação