CONFIANÇA
E no tempo certo, o tempo aberto
num sopro, o silêncio cortado expira.
O grito da matéria inerte
diante das flores estáticas
colhidas para o sorriso pálido
transfigurando a paz urgente.
E num breve momento sem graça
retalhos de esperança
são desfiados nas contas do apego
pelas mãos que seguram o medo
rogando piedade, empostando a fé
que escorre quente e inclemente
na chama ardente e pretenciosa
de iluminar o que já é.
Então, livre do envólucro a que pertenceu,
como pássaro à porta de seu cárcere,
a alma em apogeu
entrega ao ventre da mãe
a mortalha da vaidade.
Lançando-se por fim
num vôo livre e certeiro
como flecha na mão da arqueiro,
num alvo infinito segue a céu aberto,
no tempo certo,
levando em seu relicário
o que ficou do solitário coração
inspirando a lucidez da eternidade.