POCEIRO
“Não existe doença, sim pessoas doentes”
“Vós sois Deuses”
POCEIRO
Desenhando os quatro cantos do inferno
Relembrando todas as cores do paraíso
Estão próximos os dias do inverno
Mesmo assim mantenho meu sorriso
Dos medos que pontuaram o meu espaço
O orgulho de da guerra Ter saído vivo
Hoje, aconchego-me em meus próprios braços
Pois das veias que neles correm, são o que mais preciso
A cólera envolta na própria covardia
O medo de Ter ido dormir no escuro
A coragem de matar um leão por dia
O êxtase de se pagar tudo com juros
Polemizei tudo em minha barata filosofia
Fiz escorrer o sangue que nem a mim pertencia
Joguei fora de mim mesmo todos os melhores dias
Mas não sabia que os melhores dias ainda viriam
Escondi-me dentro de possessões que nunca foram minhas
Banhei-me em lágrimas em um rio seco
Fiz-me morto, estando vivo
Fiz-me cego, enxergando ao longe, tão longe que era incapaz de ver a mim mesmo
Condoí-me de toda a minha dor, que nunca fora dor
Achei-me homem, brincando dentro de um berço
Rezei um terço
Mas recusara-me sempre a pagar meu próprio preço
Então fiz-me louco
E fui louco
Louco ao ponto de crer que era pouco tudo o que eu construi e destrui
Eu ri
Morria um pouco a cada dia, envergando-me dentro do meu medo
Medo de mim
Medo do que eu fui e era
Andei nas trilhas da morte procurando a vida na ascendência de uma hera
Percorri as esferas da dor enquanto cerrava meus próprios pulsos
Alimentava os fragmentos de minha alma com preces...
Preces mortas...
Paciente terminal de uma enfermidade que existia de fato...mas não de direito
Cruzei os recôncavos da dor sem Ter merecido
Morria sem nunca Ter nascido
Mirei minha própria testa por ódio à vida
Praguejei os malditos espermatozóides que me colocaram ao mundo
Culpei a Deus e a todo mundo
No calvário me crucifiquei sozinho
Em porões
Em prisões
Fiz da dor, que não me pertencia, minha opção de vida
Dei a ela o que ela não merecia
E o demônio do meio-dia, sequer fora capaz de me falar que renasceria um dia
Mas como Lázaro, sepultado há três dias
Vi-me a procura da vida por meio da morte
E na alucinada busca da morte
Encontrei a vida
E no retorno dessa sagaz viajem
Vi em mim mesmo a própria coragem
E o Deus longe e distante
Cintilava dentro de mim o resplendor de sua imagem.
Sérgio Ildefonso Abr/2004
• Citações de André Luiz por Chico Xavier
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