Confissão de um Desesperado
Hoje eu não dormi direito
Passei a noite arrastando-me no medo
Mas isso não é mais segredo
Sou assim mesmo, quando estou no leito.
Em vez de sonhar com os anjos, espreito
Os assuntos do peito, e choro, e corro
Às vezes peço socorro,
Às vezes fujo, como um covarde
Não faço o menor alarde...
De medo, faço segredo, morro!
Mas não me considero um covarde
Só tenho as minhas confusas idéias
Por isso vagueio por entre sombras...
Penso que já é bem tarde...
Pego-me, muitas vezes, com a panacéia.
Na busca de uma saída, meu corpo tomba
Minh'alma, fragmentada, põe-se em coma.
No leito, ela se recorda, e, acordada,
Vê as pragas, vê as chagas, andeja.
Por entre as plagas desérticas
Vê-se diante de cromossomos desesperados
Sabe em quantas partes divide-se o corpo
Entende que quanto mais vivo
Aqui, jaz, um rei morto.
Num prato, numa bandeja,
Um corpo, uma alma, agonias proféticas.
Lada-a-lado com a misericórdia
Uma promessa de passados,
De um presente incerto,
De um sonho agonizante...
É a vida de quem vê distante...
Na terra, ama o que está por perto.
Só em apuros reflete, por um instante...