Minha única religião é o bem
Amar a Deus ou aos homens
Pouco me importa,
Já que isso é o mero reflexo
De minha intenção pueril,
Projetada nos atos:
Eu sou o que faço.
Quantas vezes cansei de ver
O pai educar o filho e -
Nas suas costas -
O trair?
(ou será que seu Joaquim
Beijou a esposa do seu João
Por achar que era a dona Marina?)
Ah,
Ah... e
Ah!
Chega!
Que necessidade há em mim de não ser o que digo?
Ora, antes o seu Joaquim abandonasse o seu filho,
Pois ao menos assim abster-se-ia de ser hipócrita!
Quanta mágoa...
Meu coração – idoso e quebrado -
Já não se presta mais
A cantar e não ser ouvido.
Antes o exemplo do que sou,
E não pelo que digo.
Vamos, diminuam-se as cargas de palavras:
Quero um ato, agora!
Antipatriótico que o seja:
Um ato!
A expansão da religião do não ao bem é o que me assusta:
Resta muito pouco àquele que ama a Deus ou aos homens –
Por palavras, por óbvio... -
E o que os mata, sorrateiramente,
Quando propõe-se a viver de forma medíocre e indigna,
Subvertendo o bem viver, o amor;
Enfim, a própria religião.