Haverá Um Tempo

Haverá um tempo que nossos acúmulos de arrogância, de intolerância e de desamor nos mostrarão a verdadeira face do que um dia fomos e do que somos, e não haverá mais volta ao mesmo palco um dia ora ensaiado;

Haverá um tempo que não teremos mais o véu do pedantismo e os tantos ares de certeza, que diuturnamente embaçaram nossa visão hipócrita e tão curta, que tanto nos impediram de enxergar o próximo como nós enxergavámos a nós mesmos;

Haverá um tempo que nosso fardo do arrependimento do que deixamos de ser e de fazer será tão pesado que rogaremos pragas à nossa mais que certa interior putrefação, muito mais a interna que a da cansada carcaça;

Haverá um tempo que não teremos mais o poderio do metal, e suas mais impregnantes ilusões a comandar os outros, fazendo-nos esquecer de comandarmos nós mesmos;

Haverá um tempo que não teremos mais a tão confortável persona para esconder nossas mais fétidas intenções, teremos a mais depravada constatação do que somos para quem quer que nos veja, muito mais ,e sobretudo para nossos próprios espantados e dilacerados olhos triturados pelo remorso em vão;

Haverá um tempo que nossos pés tão calejados pelos asqueirosos e tão largos caminhos de tantas andanças mal pensadas, ostentarão as chagas mais ardidas do arrependimento e a angústia reincidente dos caminhos mais nobres e estreitos que desprezamos sãos;

Haverá um tempo que nossos mais ecoantes rangeres de dentes não nos amenizarão o amargor de tanto tempo perdido e empurrado ao léo de nossas descrenças em sermos bons;

Haverá um tempo que procuraremos o alento, entre os mais variados desencantos sem alucinação, enxugaremos o nosso próprio pranto,pranto já sem lágrimas da decepção;

Haverá um tempo que não teremos mais o tempo, tempo desperdiçado, mal tratado como nosso próprio coração, não teremos mais os ponteiros certos, coesos do tempo que escapou das nossas pouco zelosas mãos;

Haverá um tempo que mesmo nessa escassez de tempo, legião de companheiros incansáveis rodeados de luzes apaziguadoras de cores inimagináveis e indevassáveis nos arrebatarão por dentro, filhos sem moradas e só com o tormento, serão resgatados pelos seus próprios intentos, a luz mantenedora da serenidade que já não era crível há tempos, preencherão nossa luz opaca, nos devolvendo um tempo, agora mais valorado pelo sofrimento,seremos só luz recriadoras de nossos templos, onde a caridade fará morada e o amor será o sagrado sustento.




Dedico estas singelas linhas a inspiração que por ventura tenha sido carinhosamente e quase que despercebidamente a mim compartilhada, como também a toda legião de benfeitores da luz que labutam no amparo e incansalmente na manutenção do verdadeiro amor em nossos corações em quaisquer planos que nós estejamos.







 
O Poeta do Deserto (Felipe Padilha de Freitas)
Enviado por O Poeta do Deserto (Felipe Padilha de Freitas) em 11/05/2010
Reeditado em 17/11/2015
Código do texto: T2249767
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