O Pomo de Adão
Um desejo em lampejo com gorjeios convoca,
Ao sublime jardim por montes cingido,
Doirada luz do sol te toca,
Suave canção te seduz ao ouvido...
Trilha campestre com vento de aromas,
Conduz-te a andar dominado,
Te estende o fruto e pede que comas,
Firme caminhas ao ponto marcado...
Forte mancebo, desvie o olhar,
Não comas do pomo,
Que irá te matar!
Pai dos homens, pisai a Serpente,
Mãe da mentira,
Senhora demente!
Pele macia te toca a face,
Reverbera em ti doce voz,
Te desatina o sincero enlace:
Nossa Mãe condenou a nós...
Em momentos torpes, a luz se esvai,
Por ínfima pedra peca o casal,
Com uma mordida, a humanidade cai,
Passiva licença a todo Mal...
Pai dos homens, o que fizeste?
Caíste em engano profundo,
Entregaste-nos à Peste!
Mas, ouças, não te condeno,
Pois hoje em teu mundo,
Bebemos do mesmo veneno!