Desabafo com a Mãe Natureza
Surrava o vento docemente
Fazendo-me perder no seu mermúrio
Quase inaúdivel
Quase inantigível
Tento em vão escutar o que ele me diz
Soa-me sedutor
Como um bordão repetindo incessantemente um sentimento
Envolvendo-me no seu toque gélido
Acariciando-me os cabelos... Agora revoltos do seu toque
Libertos de quaisquer amarras
Revoltos como a natureza que habita em mim
Selvagem na sua forma de ser
O lenço que me abraçava esvoaça agora
No vazio do tempo
Na imensidão deste nocturno céu
Parece perder-se entre o limbo das estrelas e do vasto oceano
Que à minha frente avisto
Assim calmo emitindo apenas uma doce melodia
Espelho do seu movimento
Será o vento a voz encantora e o mar o seu terno acompanhador
Da sinfonia que produz este mundo incessantemente?
Não sei. Só sei que a minha mente por ela se deixa encantar
Embrenhar
Até mais eu não ser eu
Nem o mar o mar
Nem o vento o vento
Somos agora todos unos do sentir
Todos uma só consciência e várias simultaneamente
Da harmonia que nos liga
Uns aos outros independentemente do quer que sejamos
Gente ou animal
Planta ou água
Terra ou ar
O universo tem a sua própria melodia
Perdida para tantos já
Parasita este humano que destroi o lugar que o acolhe
Esquecido daquela que nos faz viver e ser como somos
Levanta-se a voz daquela que nos abriga
Não sei quanto mais não gritará de vez
Pois cada dia que passa
É mais um dia que sofre...
É mais um dia que é injustiçada
Caiem-me as lágrimas pelo teu esquecimento
Destes que contigo não sabem viver
Que de ti se estão sempre a esquecer
E eu...sou apenas uma alma
Lanço ao vento as minhas palavras
Ao mar as minhas lágrimas!
Mafalda Sanches