Companheiro!...

Há névoa nos seus olhos pisados...

Seu caminho é de pedras e ele caminha triste.

Carrega toda a dor do mundo nos ombros curvados,

Pois não é real e não é sonho. E já duvida que existe!...

Flutua, insensível e adormecido o peito,

Entre os vapores do álcool e da loucura;

Seu lar é o boteco, a sarjeta, o seu leito,

E sorve em goles rápidos a sua amargura...

E agora caminha para bar: seu meio e seu fim...

- “Companheiro!” – ouve, e o coração

Dispara. Há tanto tempo não o chamavam assim!

-“Companheiro!” – repetem, e lhe entregam um cartão.

Seus olhos turvos não lêem, mas já percebe

Que, de repente, não está mais sozinho!...

E flui na alma o convite que recebe:

“Venha, há um caminho!...”

Era uma mensagem de AA. E lá, na humilde sala,

Onde as esperanças desatam o porvir,

Tampa a garrafa, reabre a alma. Mas não cala,

Entretanto, a gratidão. E prepara-se para servir...

Meses depois – espantoso fato! – ei-lo, vibrante,

Voltando à antiga rua, passo firme, ligeiro.

Alguém, ébrio, soluça e cambaleia. Ele ampara o caminhante,

Repassa a mensagem, e murmura emocionado: “Companheiro...”

Antonio Maria/São Luís do Maranhão, 13/06/1989

Santiago Cabral
Enviado por Santiago Cabral em 07/08/2006
Reeditado em 27/09/2017
Código do texto: T211407
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2006. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.