Companheiro!...
Há névoa nos seus olhos pisados...
Seu caminho é de pedras e ele caminha triste.
Carrega toda a dor do mundo nos ombros curvados,
Pois não é real e não é sonho. E já duvida que existe!...
Flutua, insensível e adormecido o peito,
Entre os vapores do álcool e da loucura;
Seu lar é o boteco, a sarjeta, o seu leito,
E sorve em goles rápidos a sua amargura...
E agora caminha para bar: seu meio e seu fim...
- “Companheiro!” – ouve, e o coração
Dispara. Há tanto tempo não o chamavam assim!
-“Companheiro!” – repetem, e lhe entregam um cartão.
Seus olhos turvos não lêem, mas já percebe
Que, de repente, não está mais sozinho!...
E flui na alma o convite que recebe:
“Venha, há um caminho!...”
Era uma mensagem de AA. E lá, na humilde sala,
Onde as esperanças desatam o porvir,
Tampa a garrafa, reabre a alma. Mas não cala,
Entretanto, a gratidão. E prepara-se para servir...
Meses depois – espantoso fato! – ei-lo, vibrante,
Voltando à antiga rua, passo firme, ligeiro.
Alguém, ébrio, soluça e cambaleia. Ele ampara o caminhante,
Repassa a mensagem, e murmura emocionado: “Companheiro...”
Antonio Maria/São Luís do Maranhão, 13/06/1989