Os erros e a descoberta da vida
Há aqueles que dizem não ter arrependimentos
E que só lamentam pelo que não fizeram
Eu não tive essa “sorte”
Minhas crenças fundamentais me acusam
De erros
Muitos erros
Que ao longo de minha existência cometi
Vejo que sou, as vezes, meu pior algoz
Junto aos erros, porém, a vida renasce
E com eles, novos ensinamentos:
Descobri que o amor é o maior acerto da vida
E que não amar é o pior erro
Descobri que o amor é mais do que acumulo de bons atos
O amor é um esvaziamento
De si
Do ego
Do nosso narcisismo
Descobri que o que faz um sacana
Não são apenas suas más ações
Mas suas intenções de apenas pensar em si mesmo
Descobri que muitos canalhas
Choraram por seus impulsos incontidos e foram perdoados
E que muitos ortodoxos
Fizeram a muitos verterem lágrimas incontidas
Por que não foram capaz de se verem falhos e pedir perdão
Vi homens bêbados de alma tão cândida
E homens sóbrios de alma tão soberba
Descobri que a falta de um pai é menos dolorido que as faltas de um pai
E que o abismo deixado pela falta pode matar
Como também nos provocar a transcender
E que as faltas se não reconhecidas
podem causar um abismo tão profundo que jamais poderá ser religado
Descobri que as pessoas só aceitarão ouvir o que falamos
se elas verem em nós as marcas ontológicas (para além das verbais)
daquilo que falamos
Descobri que o pior homem é aquele que se acha bom
e que perdeu a necessidade de mudar
Descobri que só será salvo aquilo que for assumido
E o que for negado tem o poder de arruinar até o alicerce
Descobri que a fé e o amor não são assimilações pedagógicas
Mas dons que emanam da vida autêntica
Descobri que os outros percebem as contradições do que dizemos
Quando nos vêem obcecados em querer provar que estamos certos
Descobri que a humildade é a porta para as grandes mudanças
E que sem ela tudo é uma fantasia egóica
Descobri que a melhor religião
É aquela que nos possibilita sermos melhores
Não melhores do que os outros
Mas melhores do fomos ontem
É aquela que nos abre os olhos da alma
Mesmo que isso nos custe a difamação
Descobri que ser santo não é impossível
Aquele que renunciou possuir (a verdade, a sabedoria, a si mesmo e a Deus)
Descobri que as desgraças, os males, as trevas
Podem nos trazer benefícios salvificos
E que ás vezes no meio da dor (parto)
Há também um gozo indescritível (filho)
Descobri que pouco sabemos do muito que nos acontece
E que loucura maior não há do que pretender dominar a existência
E que há um propósito que é insondável em tudo
Descobri que palavras advindas da fraqueza (não sei, falhei, talvez...)
Podem nos fazer fortes
E que há forças que podem ser extraídas da decadência
Descobri que um ladrão se salvou
E que um apóstolo se perdeu
Para mostra que nada há de garantido pelas forças humanas
E que as aparências nem sempre revelam o coração
E que a sorte de um homem jamais pode ser sentenciada antes da morte
Descobri, por fim, que meus erros são partes de mim
Que não posso negá-los, ainda que eu queira
Descobri que preciso me reconciliar com eles
Pra ser feliz
E que eu não sou os meus erros
Ainda que eles estejam em minha história
E que assumi-los é a única chance de vencê-los
Pois o amor, Deus, Cristo
Só salvara aquele que disser sinceramente, de algum maneira
Senhor tem piedade de mim pecador!