Lapso Temporal

Se vier a dor, se ela não me aceitar

Como farei para suportar

Terei consolo dos astros?

Conselhos dos amigos falsos?

Farei sessões de saudade?

Me verei em qualquer situação?

Talvez a resposta não chegue

Talvez o amanhã também não

E torno a girar no meu mundo

No meu desespero profundo

De quem não se encontrou ainda não

São tardes e noites a pensar

Que lá em qualquer lugar

Estará a paz a me esperar

São ondas que por aqui já passaram

São lembranças de amores largados

Amores de terra, suor e pão!

Foram dias no mar a vagar

Aonde iremos chegar?

Em que porto iremos atracar?

Que brisa quente é essa?

Inunda meus olhos a claridade

Que brilho! Que luminosidade!

Que jeito estranho de ser

Que forma de se comportar

E segue a leva de famintos

Com sonhos em seus labirintos

Retorno assim que puder, penso eu

Pensam alguns: talvez aqui me dê bem

Isso é morte, é além

E cá no meu canto assustada

Com ecos da vida deixada

Sonho um dia voltar

Prendo lágrimas de dor

Pra lá em vida não mais vou

E o cheiro do pão bem quentinho

Laços de tantos carinhos

Perco os últimos raios de luar

Dentro do grande mar

Que me recebe a navegar

Um dia desperto

E cá estou

Tempo passou

Tempo levou

Levou o cheiro

A temperatura da terra

Os ecos dos sonhos

Dentro do mar

A esperança, essa não me largará

E mistura de tantas vidas

Dessa jovem, senhora ,velha sofrida

Me diz baixinho: tenha calma

Sua hora chegará, não se apresse

O tempo ele é caprichoso

Inunda seus olhos de tudo

Imaginas o absurdo

Jovem,senhora, velha perdida

Um dia sei que voltarás

Talvez te acolha o mesmo campo

As mesmas flores que te viram partir

O mesmo mar tão grande e nem sempre sereno

Te dará boas vindas enfim

Nesse dia me dirás do teus medos

Das vidas que já vivestes

Da tua fome de terra

De amor, de pão e perdão

E serás enfim feliz

De olhos abertos ou fechados

Receberás meu abraço

Enfim, te tirarei o cansaço