5- COROAÇÃO
O pouco sol do fim ilumina as montanhas que já vivi.
Nelas, lutei contra horrendos monstros; alguns leais.
De seus picos, rolei sempre por rochosas arestas,
Saindo cada vez menos ferido, forte pelas sangrias.
Vejo agora que vão sumindo as profundas cicatrizes.
E os meus amores... Ahhhhh... vão fechando minha vida.
Elas vêm me rodear em longos braços perfumados !
Enchem meu quarto, acariciando o ocaso do meu olhar.
Todas estão comigo: todas na neblina, uma no espelho.
Então, entre silenciosas trombetas e cores ao vento,
o anjo me vem, trazendo em si minha luminosa coroa.
Na coroação tudo é névoa, com luz desconhecida,
explodindo despedidas sob as últimas muralhas...
Ficamos ao pico aberto da mais alta montanha,
Com o gelo quebrando lento o cristalino da visão.
Tudo some, e vejo perto meu corpo virar pó,
voltando à grande vida onde não há, não é.
...e ouço agora de ti a doce e leve voz do eterno...
vinda da ponta do arco-íris espiral, entre nebulosas,
onde és imensa, com teus braços, com tua boca.
E no vento das estrelas vou, vivo, finalmente a ti.
Inverno de 1987