5- COROAÇÃO

O pouco sol do fim ilumina as montanhas que já vivi.

Nelas, lutei contra horrendos monstros; alguns leais.

De seus picos, rolei sempre por rochosas arestas,

Saindo cada vez menos ferido, forte pelas sangrias.

Vejo agora que vão sumindo as profundas cicatrizes.

E os meus amores... Ahhhhh... vão fechando minha vida.

Elas vêm me rodear em longos braços perfumados !

Enchem meu quarto, acariciando o ocaso do meu olhar.

Todas estão comigo: todas na neblina, uma no espelho.

Então, entre silenciosas trombetas e cores ao vento,

o anjo me vem, trazendo em si minha luminosa coroa.

Na coroação tudo é névoa, com luz desconhecida,

explodindo despedidas sob as últimas muralhas...

Ficamos ao pico aberto da mais alta montanha,

Com o gelo quebrando lento o cristalino da visão.

Tudo some, e vejo perto meu corpo virar pó,

voltando à grande vida onde não há, não é.

...e ouço agora de ti a doce e leve voz do eterno...

vinda da ponta do arco-íris espiral, entre nebulosas,

onde és imensa, com teus braços, com tua boca.

E no vento das estrelas vou, vivo, finalmente a ti.

Inverno de 1987

ronaldo fontoura
Enviado por ronaldo fontoura em 05/11/2009
Reeditado em 08/07/2016
Código do texto: T1906295
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