Grãos de Areia
Pai, eu sei o que devo ser
e ainda não sou...
Mesmo assim, dou graças a Ti, por poder estar trabalhando, dentro de mim mesmo,
ainda que lentamente, a minha evolução
como pessoa e como ser cósmico,
integrante da mesma espiral que evolui por entre os espaços,
integrando-me aos outros seres
e buscando aperfeiçoar os dons que me deste...
Até que nesta viagem possa voltar
ao centro deste poder criador
e poder viver em plena luz,
da luz brotar e dela irradiar para o infinito...
Feito minúsculos grãos de areia
que juntos iluminam e conjugam
os laços de terra, mar e ar,
de dia, ao sol aquecem as criaturas humanas, e, ao poente recebem a lua e as gaivotas e em prontidão repetem, a cada dia, este ciclo, diferente, diverso, inigualável...
Doando cada ato e em conjunto fazendo o seu labor
brilham para a eternidade, singeleza e delicadeza,
como nas dunas, seguem o curso e a direção dos ventos, como se fora um sopro Divino, ordenando e reordenando as coisas,
tem matéria como nós, tem um princípio de servir e de em servindo, em permitirem este deleite, serem também criaturas do universo.
Certamente este será o grande sentido da vida, aprender para ensinar o outro,
colher para alimentar o outro,
tecer para vestir o outro,
doar-se para permitir a existência do outro.
Pense nisso, pois segundo Hanns Jonas, filósofo alemão do século XX, o ato de criação por si só representou o maior ato de doação que se tem notícia, pois:
"Deus contraiu-se sobre si mesmo, e expandiu-se para gerar todo o cosmos em um grande ato de doação."
Se Deus nos espaços antes absolutos dos confins do universo, se permitiu toda a criação e reprodução das espécies animal, vegetal e dos elementos da natureza, por que nós, parte desta obra universal, não fazemos também este generoso gesto, ainda que singular?
AjAraújo, o poeta humanista.