MOMENTOS TEMPESTIVOS
Um dia a vida amanhece
No outro ela se acaba
Com seus raios fumegantes
A procela nos afaga
Agora é o boreal
Com todo açoite astral
O bem fica por cima
Por baixo fica o mal
E é a partir de então
Que ouço o roncar do trovão
A estrondar os meus tímpanos
Rasgando o ventre chão
E nessa algazarra celeste
A terra fica aturdida
Visivelmente abatida
Como o feno do agreste
Mas em tal caducidade
Que o homem se submete
Há de ter uma verdade
Que somente a Deu compete
O extrato da vida abre
Com o nascer da açucena
Vera de grande beleza
Cheiro de noite serena
Cada um tem seu papel
Aquele que amor não sente
Tem um retorno difícil
Nas barcas de Gil Vicente
Aquele que em toda vida
Ensinou buscar o mel
As fadas lhe dão cadeira
Assistem à chuva do céu.