escrito no avião de New Delhi a Amsterdan em 28/09/08
 
 
DSC02787 por você.
 
Exílio

Mãe índia que me acolheu.
Rica na diversidade da vida.
Muito com amor nos deu.
Ao nosso coração deu acolhida!



       

Me acolheu sem perguntar meu nome.
Me ensinou com seu povo amoroso.
Sem vergonha do que come,
Que pra nós não é tão gostoso.



Estedeu sua mão no Puja
Para nossa alma alimentar.
Mas também, mesmo que eu fuja
Estende sua mão para chorar...



Mão que pede, mão que suplica,
Mão que abana no doce "hello"!
A nossa mente complica.
Por isso na maior parte não doou.



Mãe Índia que abriu suas entranhas.
mostrou ritos em caverna... Nas montanhas.
mostrou sua cor suja na sujeira,
Sua gente paupérrima guerreira.



Velho magro, pele queimada,
Músculo vontade que pedala!
Suado no sorriso não desiste
Da propina suada mais que insiste.



No seu jeito dengoso balança...
No concordar, com sua cabeça.
Sorri, olha como criança...
Tudo faz com que a gente cresça.



Índia com seu Taj Majal majestuoso,
Templo do Amor simboliza
Suas formas mostra gostoso
Aos nossos sentidos realiza!

Maq Cidinha (11)

Ela mostra a nobre arte,
Riqueza imensurável!
Também a pobreza em toda parte
De muita gente miserável!

Coloca sabedoria num Sadhu,
Que renuncia o material.
Mostra o desapego cru,
Para nós fenomenal!




A pura realidade sem corte,
Índia mistério nos mostra.
Velha na torre espera sua morte,
Diante dela na entrega se prostra.

Numa escura noite úmida se empenha,
Semi-nua no seu Saree maltrapilho,
Dinheiro pra comprar a lenha
Que na sua cremação à sua alma dará brilho!

Ao receber dos peregrinos os abraços,
E o amor num grande côro,
Sorriu em gargalhada e criou laços...
Lição de vida, morte, emoção em choro!

Seguimos por lamas enfezadas,
Corpos se despedindo em labaredas,
Chuva com suas gotas abençoadas
Lavam nossas almas pelas veredas.



Ensinamento milenar que criva
Também no barco que nos leva ao Puja!
balança no ritmo dos Sacerdotes de shiva,
Ao medo, frio, a verdade sobrepuja!

Devotos por toda parte acompanham
O ritual que dá Boa Noite à Ganga Sagrada,
Sacerdotes aos fogos de suas tochas assanham,
Deixam a nossa alma alimentada.

A chuva à nossas cabeças abençoa.
Fogos dançantes e sino martelado soa.
Sacerdotes em pura concentração
Bailam o ritual do Puja com devoção!



De corpo molhado na aceitação,
Assisto no meio do povo com atenção.
Tudo é muito mágico e milenário!
Ganges, cores, luzes... belo cenário!

Ao som intenso de mil notas misturadas,
Ao perfume do incenso e fogo que queima.
Os mantrans por todas as almas ligadas,
Numa crescente empolgação que teima!



Uma magia impera neste concerto.
Ópera indiana é o que parece,
Num roteiro perfeito no acerto
Entre o espetáculo e a prece!

Saulo, Simone e Mafalda, peregrinos,
Ficam na mesma insistência dos sinos
Que badalaram no ritmo até o final,
Mesmo baixo ao contínuo temporal!

Barcos por toda parte
Que o Ganges sua margem reparte.
Pra que todos possam assitir
O Puja que faz o rio Ganges dormir...



Como descrever as cenas que ficam
Gravadas em sons e imagens coloridas?
Ritual que por milênios dedicam
Estas almas, que pela Ganga são queridas!

Velhos, homens, mulheres e crianças,
Interligados pelo ritual sagrado,
Movidos pela fé e esperanças
O tradicional é assim preservado.

Mesclados com todo esse povo
Somos envolvidos na emoção,
De fazer o velho rio dormir de novo,
Neste ato de muita emoção!

Palavras e versos, como expressar
Tudo o que a gente sente?
O importante é o que vai ficar
Em nossas almas, latente!

Em casa: Rishikesh

Mas o nosso tempo acabou.
Chegou enfim a grande hora.
Mãe índia nos amou,
Mas agora nos manda embora!

Sentimento na dualidade,
Da família, a saudade,
E da Índia que nos ama,
A partida nossa alma reclama.

Dias que parecem um ano,
Como sair deste lar?
Sei que parece um engano,
Mas o destino quer nos exilar!

Índia é morada da alma...
Berço da pura sabedoria...
Mas tudo é ilusão... Calma...
Tudo está certo. Alegria!
 
 
Namastê
 
Saulo
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