A janela do décimo andar

Já não acredito em tudo que posso ver, isso me basta,

Não creio nem nas luzes que cruzam o vidro transparente,

Pois não há sol que retire a tristeza que me abate,

Nem uma policromia retirará o luto que minha alma sente...

~

Não creio que possa existir alguém misturado a minha pauta,

Nada pode mudar o mundo escuro, meu mundo de cinzas negras,

Mas ontem eu pude viajar ao obscuro, sou um louco astronauta,

Em dez milhões de estrelas, nestes meus caminhos sem regras...

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Mas a viajem tem volta, acordei-me num total desespero,

O meu fascínio quebrado, mal podia sentir os pés no chão,

Que revolta, eu quero quebrar tudo, e quem ouvirá meu apelo?

A janela está aberta, e grito por ela, mas tudo parece em vão...

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Vou até a geladeira, não há água gelada que me refresque agora,

A sede que eu tenho é insana, não consigo tirar a secura da boca,

Tenho que me livrar disto, não sei do tempo, qual será a hora?

Sinto-me sem ar, pois algo me sufoca nesta imaginária forca...

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Corro para a janela, ali o vento sopra-me a aragem bendita,

E vejo lá em baixo o mundo pequeno, em um quadro doente,

É um quadro cinza, mas quem será que pintou os detalhes desta dita?

Com ônibus, carros, pessoas, vidas sobre vidas, tudo tão diferente...

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Mas algo me chama lá para baixo, subo na guarda com coragem,

Explano meus braços em cruz, agora tenho certeza que posso voar,

Salto neste momento, essa será a mais longa de minhas viagens,

Não sei qual será o meu destino, não sei onde vou chegar...

~

E tudo voltou a ter cores! Cores que antes não podia reconhecer,

Voltei a sorrir, pois estou voando para minha liberdade,

Olho lá para baixo, agora tem muitas pessoas que podem me ver,

E parecem gritar, talvez não acreditem que eu voe de verdade...

~

O que era pequeno, parece crescer agora diante de minha visão,

Tudo vai tornando-se maior, embora que se aproxime lentamente,

Mas eu não sei o que houve, tudo se tornou escuro ao tocar no chão,

Devo ter caído novamente, no lado negro de minha mente...

Marco Ramos
Enviado por Marco Ramos em 18/11/2004
Código do texto: T123