ANJOS E SANTOS
Aprendi, na quietude da tarde,
A andar sereno sobre as brasas,
E relatar toda a complexidade
Do dia no simples ruflar de asas.
Beija-flor, sugo a seiva sagrada
Da preguiçosa flor, o sonho rubro
Desafio na primeira madrugada,
E rarefeito orvalho me descubro.
Não percebo, e há sinais, indícios,
De que esse curto, intenso viver
Pode levar-me ao raro exercício
De decantar as tormentas do ser.
Se, nesse ofício silente de criação,
Me fosse dado curar essa ferida,
Eu sangraria todo o meu coração
Para poder renascer em seguida.
Vivo, sem fragor e sem alarde,
No lúdico ato de criar encantos
Para a alma que me é metade,
E que vibra com anjos e santos.
© Jean-Pierre Barakat, 27.02.2006