Palavras profanas
Aterroriza-me palavras blasfemas figurando espécime de exorcismo
Palavras que assaltam já como disparo de bala no peito
Em plena praça florida, disparo que matou e levou sem tempo de adeus
Tempo, esse espaço pequeno demais que ocupam as palavras que batem
Chicoteiam ou matam mesmo em instantâneo ato consumado
Projétil expelindo impropérios
Poucas palavras, bastas palavras contidas no esbate
Poderosas palavras que fazem como encolher o mundo
Diante dos olhos aflitos recebendo pedradas em letras
O mundo transformado em um dedo, único dedo indicativo
Saído do umbigo do arremessador para púlpito de acusador
O mesmo dedo (vomitando) vociferando denodos
Pobres palavras transformadas em armas letais
Usadas como metralhas
Palavras, onde andam as Palavras?!...As sagras
As cotidianas as de debate ético as de amor?!
Pobre a vitima das palavras profanas
Que sejam dadas asas as palavras
Que estas recebam a extrema-unção ungidas no sagrado
Revestidas em substâncias aromáticas toquem, friccionem
Assaltadoras palavras. Estas que sejam banidas das praças
Que não haja espaços abertos a elas
No ressurgir em asas anjos guardem
Mensageiros, doadores e receptores das palavras
Que não haja vítima das palavras lançadas
Ausente opressor, ausente a figura do réu
Inexistindo o maléfico. Haverá a Palavra.
Palavras, palavras cantadas, declamadas, contadas
Palavras que realizam palavras