Palavras profanas

Aterroriza-me palavras blasfemas figurando espécime de exorcismo

Palavras que assaltam já como disparo de bala no peito

Em plena praça florida, disparo que matou e levou sem tempo de adeus

Tempo, esse espaço pequeno demais que ocupam as palavras que batem

Chicoteiam ou matam mesmo em instantâneo ato consumado

Projétil expelindo impropérios

Poucas palavras, bastas palavras contidas no esbate

Poderosas palavras que fazem como encolher o mundo

Diante dos olhos aflitos recebendo pedradas em letras

O mundo transformado em um dedo, único dedo indicativo

Saído do umbigo do arremessador para púlpito de acusador

O mesmo dedo (vomitando) vociferando denodos

Pobres palavras transformadas em armas letais

Usadas como metralhas

Palavras, onde andam as Palavras?!...As sagras

As cotidianas as de debate ético as de amor?!

Pobre a vitima das palavras profanas

Que sejam dadas asas as palavras

Que estas recebam a extrema-unção ungidas no sagrado

Revestidas em substâncias aromáticas toquem, friccionem

Assaltadoras palavras. Estas que sejam banidas das praças

Que não haja espaços abertos a elas

No ressurgir em asas anjos guardem

Mensageiros, doadores e receptores das palavras

Que não haja vítima das palavras lançadas

Ausente opressor, ausente a figura do réu

Inexistindo o maléfico. Haverá a Palavra.

Palavras, palavras cantadas, declamadas, contadas

Palavras que realizam palavras

Regina Romeiro
Enviado por Regina Romeiro em 14/07/2008
Reeditado em 15/07/2008
Código do texto: T1080592
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