Leito de Morte

Quão doente podeis te apresentar,

Triste alma em atraso!

Depositária das esperanças que se esvaem nesta hora,

Apegando-se, agora,

Às amarras deste vaso que ocupastes não por acaso.

Não sabeis que teu é o momento derradeiro ?

Ou ainda sonhais com essa tua falsa eternidade,

Ilusões postas ao serviço de toda a vaidade.

Chegada tua hora, pergunto-te:

Ainda não vistes o mundo por inteiro ?

Olhe para dentro de ti, e descobrirás o que nele há de verdadeiro.

O que foi feito daquela pureza que hoje cede ao lamento e toda tristeza?

Deixe para traz nesta hora teus valores, tuas riquezas e tuas diferenças.

Purgue tuas injúrias, acumuladas no curso de tantas eras.

Lava tua alma, vista-te com o manto puro dessa nova vida,

Que agora, além desse modorrento leito,

Ansiosa como o sagrado peito que alimenta, para o sempre te espera.

Livra- te já das frágeis amarras trançadas nos templos de luta inglória,

Pesadelos lancinantes desfalecerão, não mais sulcando dolorosas cicatrizes.

Recobra-te as mais doces lembranças que vivem na vastidão da tua memória.

Abra os olhos da alma, aplacando toda cegueira que em ti se faz latente .

Exalte a nobre criação, expurgando toda imperfeição na carne ainda presente.

Quando, então, ao próximo sopro que do fim nesta te aproxima,

Terás a visão verdadeira do espírito liberto, como tenho agora.

Clamarás, assim te garantimos, pela divina hora,

Encetando nova caminhada,

Bendita jornada, por todos nós iluminada.

Sem receios, padecimentos ou qualquer engano,

Amparado pela mão da sagrada providência que jamais desafina,

Rumarás ao teu maior destino, que julgaste um dia, ser mera obra do

insano.

E o teu vaso, que aí se prestou à semeadura,

Na terra será quebrado e na lembrança velado, por todos os teus entes,

Corações incipientes, apegados que ainda estão à toda sensação e dor,

Feitos que ainda são, e continuarão, até a derradeira hora,

Crianças somente, que não imaginam como verdadeiramente bela

Se faz toda a vida aqui fora.

(intuído p/ esp. Claudino de Antares)

luis roberto moreno
Enviado por luis roberto moreno em 09/06/2008
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