O BEIJO SALVADOR
Meu tema é a lassidão, são as energias exauridas;
De tanto que me vestem de transtornos, das deprecações inaudíveis;
Esses terríveis açoites, submetidos a mim por injustas lidas;
Essas tantas existências sem vidas, quadro de belezas horríveis!
Nem mesmo meu olhar indulgente, consegue ser poupado;
Trajado com estolas de anarquia, mesmo achando-me a aquiescer;
As agressões são o prêmio de escárnio, por esse meu ser obtemperado;
Sinto-me a fenecer, com minha noite a gritar e meu amanhecer calado, sem a nada a dizer!
Estou partindo em viajem, detonarei somente em mim, esses megatons;
Calem-se todos os sons que me induzem ao poço, pois nem será preciso;
Eu viso agora alcançar, esses pináculos de meus armagedons;
E que meus sonhos bons vençam o realismo mal, dando-me algum paraíso!
Desse escalvado Sansão, restam derradeiramente, as forças do coração;
Vê-se o fulgente satélite, reduzido a singelo astro iluminado;
Suas mandíbulas congeladas pelo fardo, nada mais dirão;
De sua mão sairão sementes, lançadas em sólos ardentes, de um novo arado!
E seus olhos renascidos, serão a única platéia de sua antiga ópera;
E a voz de seu clamor, tornar-se-á sua cúmplice eremita;
O poeta que grita, já não espera amor, dessa chuva de cólera;
Ele agora adormece á espera da ressurreição, presente nos beijos de quem nele habita!!