O BEIJO SALVADOR

Meu tema é a lassidão, são as energias exauridas;

De tanto que me vestem de transtornos, das deprecações inaudíveis;

Esses terríveis açoites, submetidos a mim por injustas lidas;

Essas tantas existências sem vidas, quadro de belezas horríveis!

Nem mesmo meu olhar indulgente, consegue ser poupado;

Trajado com estolas de anarquia, mesmo achando-me a aquiescer;

As agressões são o prêmio de escárnio, por esse meu ser obtemperado;

Sinto-me a fenecer, com minha noite a gritar e meu amanhecer calado, sem a nada a dizer!

Estou partindo em viajem, detonarei somente em mim, esses megatons;

Calem-se todos os sons que me induzem ao poço, pois nem será preciso;

Eu viso agora alcançar, esses pináculos de meus armagedons;

E que meus sonhos bons vençam o realismo mal, dando-me algum paraíso!

Desse escalvado Sansão, restam derradeiramente, as forças do coração;

Vê-se o fulgente satélite, reduzido a singelo astro iluminado;

Suas mandíbulas congeladas pelo fardo, nada mais dirão;

De sua mão sairão sementes, lançadas em sólos ardentes, de um novo arado!

E seus olhos renascidos, serão a única platéia de sua antiga ópera;

E a voz de seu clamor, tornar-se-á sua cúmplice eremita;

O poeta que grita, já não espera amor, dessa chuva de cólera;

Ele agora adormece á espera da ressurreição, presente nos beijos de quem nele habita!!

Reinaldo Ribeiro
Enviado por Reinaldo Ribeiro em 17/05/2008
Reeditado em 18/07/2008
Código do texto: T993571
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