cidade
Perdi a alma da cidade
Dentro de mim.
Percorri mil vezes
Becos de memória
Paralelos escorregadios
Da chuva que caiu.
A manha húmida e fresca
Límpida
Os autocarros são poucos
No sono de ser domingo.
Lenta mansidão de olhares
Passos por entre os passos
A noite brilha iluminada
Pelos letreiros das lojas.
É uma lembrança tão distante,
Como se fosse de outra vida.
A marginal, era o caminho das luzes
Perdi o mar no horizonte
Este vento, não tem sal.
…como se fosse noutra vida
A existência paralela
Extinguiu-se
Como o despertar de um sonho.
Vidas vazias.
O escape tóxico dos carros
E uma pressa inevitável
De chegar a lugar nenhum
E não perder o autocarro.
Porque era um dia de chuva
E o Inverno é mais triste
Nos azulejos dos prédios
No cimento dos passeios
Nas escolas bafientas
Professores medievais.
Tanta pressa, tanta pressa
As ruas esticam, estreitas.
Passos sem nome
Ressoando sem cessar
Por entre os séculos.
Ainda se parasse de chover!