Folha em branco
Fui forçado a aprender a viver só
A me acostumar com a dor
A ter como companhia o silêncio inóspito das madrugadas.
A necessitar de um vício para me adormecer...
Afinal a linha da loucura é tênue e fácil de se cruzar.
Tive que saber caminhar na borda do abismo
E me acostumar com seus olhos a me seguirem incansavelmente.
Tive que rasgar todos os meus sonhos... Um por um...
Matar todos os meus filhos ou vê-los serem mortos.
Fui forçado a ser singular e a gritar por palavras escritas
A chorar em segredo
A dormir nas sombras de meu pesar.
Hoje nem me olho mais no espelho
Não existo mais e não quero saber quem vai me encarar de volta no reflexo.
E nem sei mais se isso importa.
Fui forçado a vir, a existir...
E ainda sou forçado a permanecer enforcado nessas terras de ossos e pesadelos.
Sou quem não deveria ser
Tenho o nome que não deveria ter
Não possuo cor, nem olhos, nem mãos, nem alma...
Sou um boneco de barro e sangue
Sou cinzas e frases perdidas.
Eu sou um ponto de interrogação em uma folha em branco...
Eu sou... A folha em branco.