LONGE DE CASA

Seis horas, tudo cinza,
Desembarcou;
Mais um José na rodoviária,
De Souza ou da silva,
Tanto faz;
Tentativa urgente,
De sobreviver,
Ter o mínimo de dignidade,
Para oferecer aos seus,
Um lampejo de felicidade,
Um pouco da compaixão de Deus;
Avenida Paulista à sua frente,
Milhares de olhares indiferentes,
Para onde ir...?
Como começar?
Se não pôde estudar,
Mal, mal sabe conversar,
Lá de onde veio,
O único meio de comunicação,
Eram as ordens do rude patrão;
-Faça isso Zé,
Não faça isso Zé,
Firme o seu pé;
- Um dia eu tomo vergonha,
Paro de me humilhar,
Deixo o meu Jequitinhonha,
E a sorte vou tentar...
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Mas, “e agora José”?
“José, e agora”?
Falta lhe a fé,
A saudade lhe devora,
Você não é tão duro José,
Sente que a grande cidade,
Vai lhe tragar,
Deseja voltar,
Mas, como?
Não tem passagem,
Não tem coragem,
Não tem ninguém,
Sentado sobre as mãos,
Sufocado coração,
Sofre a ausência de um bem,
A dor se aproxima – consola,
Uma lágrima rola,
Do seu semblante,
E nesse amargo instante,
Você se sente submerso,
O ser mais insignificante,
Do universo.