Desabafar Poético - XV
Como um fogo morto que jamais renasce
Um sangue de besta que jamais existe...
Uma inspiração que jamais volta
Uma tristeza que já me consumiu.
Me torno cética e já não acredito em sonhos
Perdi toda minha vida, todo meu talento,
Eu já não tenho mais a arte correndo em minhas veias...
Meu sangue é agora ralo e asqueroso
Não tenho mais nada valoroso...
Ou pelo menos nada verdadeiro assim.
Sonhos parecem verdades, mas eu acordei
Ou pelo menos me deixei dormir em topor...
A noite vai fria e o sol se torna meu carrasco
Eu quero novamente sentir alguma dor;
Nem me auto-flagelar e furar a pele
Rasgar a carne, sangrar o corpo...
Nada'dianta! Nada sinto e nada volta!
Apenas resisto desabafando em versos...
Não há luz, não há tunel, não há transição
Existe somente o efeito do marasmo da solidão
Nada é real, meras quimeras, o bater pontual do relógio
Sempre frio e exato como uma equação matemática.
Ser senil o suficiente para regredir
E perder tudo que me há de valioso
Sem anjo, sem sonho, sem carinho
Efêmeramente um mizero caminho
Qual não sei por onde seguir...
Violinos tocam ao fundo da paisagem da melancolia
Num passo e descompasso inexistente de alegria
Ritimados por batimentos fracos e chorosos de um coração
Que se perdeu entre esses dezesseis anos
Numa contagem que ainda não se encontra.
A vida se torna e concretiza-se vazia,
Tão quanto a vodka na neve é fria
Feita apenas sussuros e desgraça...
Não existe boêmia que salve minha raça.