Réplica

I

Quando em berço esplêndido nascido

Em torrenciais lágrimas afogado

Afastado já me vi à tétrica alma

Que primeiro houvera amado

Ah! Que presságio ímpio inexaurível

Que posteridade amarga proferida

Era a sina vista sob pálpebras

De rubra esclerótica sofrida

Como pôde a luminosa senda

Findar-se em profunda escuridão?

Por que tiraste do filhote o ninho

Que o mantinha em proteção?

Ainda à noite do despertar sombrio

Sob dor tangencialmente oriunda

Atravessara a derme (e a medula)

Vertendo-se profunda

Agarrado a sedosos retalhos

Os olhos fechei num soluçar profundo

Seria o choro último em vida

Desta Réplica do Mundo

II

O envelhecer que delimita o tempo

Implacável foi ao abater da dor

Tornara a antes morta vida

Sufocada pelo amor

As trovoadas jazidas do céu

Ou talvez nele, por reação contrária

Aclararam-me os divinos olhos

Perante a virgem solitária

Oh! Não pudera ser mortal a sensação

Não pudera abrasar tamanho poder

Queimou-me a chama, estancou-me a veia

Ensinaste-me a viver!

Ou pelo menos ensinar-me-ia, porém

Em subterfúgio isolei-me por decreto

Do coração de charque que indiferente

Independia-me de afeto

Mas ao em vácuo ouvir a leve brisa

Orquestrar a flora por um só segundo

Imerso em lástima, sentir-se-ia nostálgico

Seria Réplica do Mundo

III

A soberania do cárdio não pudera porém

Separar-me deste amor kardecista

Ao que a razão tomava-me coragem

A dama ainda tomava-me a vista

Mas ao chegar eu perto à donzela

Sob o diencéfalo destinado a amar

Esticas-te a mão ensuorada

E não conseguiria lhe tocar

Ah! Ordinário mundo ilusionista

Como puderas tu tirar-me a aurora

Fizestes quebrar a promessa de quem

Agora chora

Ah! Maldita palavra proferida

Maldito arrostar da conseqüência

Condenaria outrora um homem

Que pecou por inocência

Ah! Iníqua inocência d’alma

Do topo tu levaras-me ao fundo

Condenou-me, por instantes

A ser Réplica do Mundo