Crimes desumanos
Pensai em nuvens,
Das mais branquinhas.
Elas lembram sonhos pela imagem
De algodão voador em forma de andorinha,
Mas aos poucos se transformam
Em ovelhas
E continuam
A se transformar até caírem sob chuva que molha.
Eu, quando criança,
Olhava o céu azul e branco
E enxergava a mudança de lembranças
Nas nuvens francas.
Agora, pensem em crianças
Que olham nuvens
E sonham com lembranças
De quando maltratá-las
Vem o adulto infame,
Porco maldito,
Cujas mãos sórdidas causam gritos
Na criança que geme.
E o seu corpo que se debate,
Segurada a criança por outras mãos covardes,
Aos poucos se acalma no meio das folhas verdes
E a vida espontânea dá lugar à morte.
O circo queimado
Após o crime covarde
Pela população revoltada já está desmontado,
Mas os criminosos presos, peço: não vedes.
Os outros presos hão de lhes ensinar
Pouco do que a menina indefesa passou
Enquanto enforcada; o maldito, além de matar,
Também a molestou.
E não se esqueçam das outras
Crianças,
Que, nas ruas, tornam-se ostras,
Sujas que ficam de fuligem e mazelas que passam
Por suas frágeis vidas.
E o corpo forte agüenta o frio,
O medo à noite das outras vidas,
Perigosas, como os demais cinzentos seres urbanos.
E que as crianças assassinadas
Não nos lembrem o inferno em histórias mal-contadas,
Mas que nos lembrem as nuvens que caíram
Em forma de chuva e sumiram.
Mas não nos esqueçamos de castigar os demônios
Que maltratam crianças.
Estes devemos punir e tirá-los de nossas lembranças.
Nos anjinhos, porém, devemos pensar com carinho.