Crimes desumanos

Pensai em nuvens,

Das mais branquinhas.

Elas lembram sonhos pela imagem

De algodão voador em forma de andorinha,

Mas aos poucos se transformam

Em ovelhas

E continuam

A se transformar até caírem sob chuva que molha.

Eu, quando criança,

Olhava o céu azul e branco

E enxergava a mudança de lembranças

Nas nuvens francas.

Agora, pensem em crianças

Que olham nuvens

E sonham com lembranças

De quando maltratá-las

Vem o adulto infame,

Porco maldito,

Cujas mãos sórdidas causam gritos

Na criança que geme.

E o seu corpo que se debate,

Segurada a criança por outras mãos covardes,

Aos poucos se acalma no meio das folhas verdes

E a vida espontânea dá lugar à morte.

O circo queimado

Após o crime covarde

Pela população revoltada já está desmontado,

Mas os criminosos presos, peço: não vedes.

Os outros presos hão de lhes ensinar

Pouco do que a menina indefesa passou

Enquanto enforcada; o maldito, além de matar,

Também a molestou.

E não se esqueçam das outras

Crianças,

Que, nas ruas, tornam-se ostras,

Sujas que ficam de fuligem e mazelas que passam

Por suas frágeis vidas.

E o corpo forte agüenta o frio,

O medo à noite das outras vidas,

Perigosas, como os demais cinzentos seres urbanos.

E que as crianças assassinadas

Não nos lembrem o inferno em histórias mal-contadas,

Mas que nos lembrem as nuvens que caíram

Em forma de chuva e sumiram.

Mas não nos esqueçamos de castigar os demônios

Que maltratam crianças.

Estes devemos punir e tirá-los de nossas lembranças.

Nos anjinhos, porém, devemos pensar com carinho.

Ulisses de Maio
Enviado por Ulisses de Maio em 27/04/2008
Código do texto: T963850
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