DO REFÚGIO INVERSO

Onde antes era calmo e dócil vau

Hoje se ergue inversamente o inferno abissal.

Onde antes era o meu refúgio, eu não encontro mais nada...

O que fiz ou o que fizeram da minha felicidade?

Ou ela se foi só... E me deixou do mesmo jeito – só.

Só um refúgio! Não há refugo...

Em qualquer endereço não sou cotado,

Mas sou cortado várias vezes...

Onde antes era o meu refúgio, só encontro hoje tristeza

Nem ninguém para brigar nem para amar...

Eu estou sozinho e não sei conviver comigo

Preciso mesmo de quem se faça interposto

Entre o que sou e o que quero ser

Entre onde estou e o que posso fazer...

Onde antes era o meu refúgio, não encontro mais carinho

Nem quem se faça impressionar com minhas palavras

Com o meu jeito, trejeitos e tiques

Com os meus sonhos, estranhezas, pieguices

Inteligências, sacadas, mancadas e burrices

Bandeiras, associações, aspirações, maluquices

Onde antes meus dedos corriam soberbos e leves

Atenciosos e cheios de cuidados para não tropeçar

Por ter imenso poder de a muitos influenciar

Hoje pesados nem se levantam direito

Pois, também, não há a quem responder

E quando ousam escrever, ninguém os lê.

Onde antes eu corria nos fins de semana,

Onde ali cessavam para o meu prazer os dias de branco

E começava a curta-eterna temporada colorida

Este lugar não mais me gera alegria...

Meu refúgio agora é não lembrar que posso ser feliz

Para não me frustrar com procura impossível do que eu sempre quis.

Meu refúgio agora é não lembrar que posso ser feliz para não me frustrar com procura impossível do que eu sempre quis.