alpendre
Não há esperanças no mundo para mim
Há apenas um quarto,
dentro de uma casa imensa,
repleta de colossais abismos
Não há ternura para mim.
Há finitude do corredor
Há o frio pontiagudo da faca
A querer degolar as palavras
E ,a fazê-las sangrar símbolos,
significados e fetiches
e na brandura dos fonemas
sussurrar-lhe pequeno grunhidos
do animal que há
enterrado em nós
somos sepultura invisível,
inverossímil
do outro lado
de nossa outra face
do ser que perto dos seus extintos
decepa a razão,
e grita, e chora e mata
e devora anos,
vidas
sem nenhuma misericórdia
que ergue o chicote,
que aciona a bomba
que nega amor e o simples afeto
por estar na defensiva,
por ser egoísta
ou
simplesmente
porque nunca fora
amado
e se foi amado,
já era tarde.
No horizonte a lua prometia
ser das estrelas
E estas, se perdiam no firmamento
A desenhar centauros,
escorpiões, cruzeiros
Somos sepulturas vivas
A encobrir o visco
A trocar madeira boa,
Por morta
E por barganharmos todos
os dias
as emoções
no alpendre diário do acaso.