DESENCANTADO
Como uma ilha, menosprezada pelo mar que lhe cerca;
Como nuvem carregada, esquecida pelos ventos invernosos;
Como uma única semente, a resistir em meio à paisagem deserta;
Qual filamentos de seda, esmigalhadas sob monturos rochosos!
Desnudo de rimas, qual soneto mal rabiscado;
Dissonante às extremas, como o primeiro acorde de um aprendiz;
Vazio de sonhos, na insônia de um céu estrelado;
Com o relevo do íntimo deformado, qual perceptível cicatriz!
Rastreado pela solidão, como quem foge da outra face;
Vencido pelo desgosto, como quem é humilhado na arena;
Exposto ao ridículo, tal como o incompetente disfarce;
Vendido à vergonha, como quem fecha os olhos ante a própria cena!
Estéril de paz, como o chão necrosado e improdutivo;
Fraturado na alma, em meio a expostos ossos desiludidos;
Alçado ao léu, como desprezível folha que ruma ao abismo;
Desmoralizado, qual desarticulado pelotão rendido!
É como me sinto, diante do infame tributo cobrado;
É como recebo a indiferença, ao gesto amoroso que sempre ofereço;
Porque não mereço, legar encantamento e padecer desencantado;
Por não é justo, oferecer sincero amor, e recebê-lo ao avesso!!