DESENCANTADO

Como uma ilha, menosprezada pelo mar que lhe cerca;

Como nuvem carregada, esquecida pelos ventos invernosos;

Como uma única semente, a resistir em meio à paisagem deserta;

Qual filamentos de seda, esmigalhadas sob monturos rochosos!

Desnudo de rimas, qual soneto mal rabiscado;

Dissonante às extremas, como o primeiro acorde de um aprendiz;

Vazio de sonhos, na insônia de um céu estrelado;

Com o relevo do íntimo deformado, qual perceptível cicatriz!

Rastreado pela solidão, como quem foge da outra face;

Vencido pelo desgosto, como quem é humilhado na arena;

Exposto ao ridículo, tal como o incompetente disfarce;

Vendido à vergonha, como quem fecha os olhos ante a própria cena!

Estéril de paz, como o chão necrosado e improdutivo;

Fraturado na alma, em meio a expostos ossos desiludidos;

Alçado ao léu, como desprezível folha que ruma ao abismo;

Desmoralizado, qual desarticulado pelotão rendido!

É como me sinto, diante do infame tributo cobrado;

É como recebo a indiferença, ao gesto amoroso que sempre ofereço;

Porque não mereço, legar encantamento e padecer desencantado;

Por não é justo, oferecer sincero amor, e recebê-lo ao avesso!!

Reinaldo Ribeiro
Enviado por Reinaldo Ribeiro em 14/04/2008
Código do texto: T945316
Copyright © 2008. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.