Anti-Herói

Não tenho os poderes que acreditava poderem mudar o mundo,

Não tenho a força para soterrar a desesperança alheia com meus braços,

Não tenho a agilidade para ultrapassar a velocidade de minhas incertezas,

Não tenho a segurança para transmitir fé e sonhos aos desesperados,

Não sou o herói estampado nas revistas de HQ’s das bancas de jornal,

Sou apenas esse mortal envolto em angústia e tristezas inconfessáveis...

Não consigo voar por cima da montanha de problemas que me assolam,

Não consigo atravessar as sólidas paredes de meus medos paralisantes,

Não consigo enxergar meu próprio coração trancado em um cofre de chumbo,

Não consigo mergulhar fundo no mar de desilusões causadas por mim mesmo,

Não sou o herói que esperava encontrar no parque numa tarde de primavera,

Sou apenas esse mortal escondido em uma insignificância desolada...

Não uso uma capa vermelha para imprimir minha marca no mundo,

Não consigo desatar as teias que me aprisionam em meus muitos erros,

Não tenho o martelo de um Deus do Olímpo para transformar a realidade vivida,

Não disparo rajadas de laser de meus olhos fechados às mazelas do mundo,

Não sou o herói que habita os filmes de Hollywood em sucessos de bilheteria,

Sou apenas esse mortal anônimo na massa de rostos iguais no metrô das cidades...

Não posso congelar a lava de um vulcão incandescente que incendeia meu espírito,

Não posso impedir o naufrágio do navio de minha vida no oceano de solidão ao redor,

Não posso evitar o furacão que varre meus sonhos como folhas de papel ao relento,

Não posso reescrever minha trajetória nesse universo de paralelas desencontradas,

Não sou o herói galante que irá salvar o dia e a linda mocinha do vilão mais temido,

Sou apenas um mortal que continuará na fila do serviço-social em busca de emprego...