E agora, Carlos?
É resto de noite
Astros em restos no céu
Me resta recolher
O que resta de mim
Neste restante de horas
Resta um mínimo de lucidez
No fundo do copo
Onde resta um gole vazio
Que é o que me resta
Neste restaurante
Nesta festa
Onde restam restos de gente
Comidas e rastros de ratos
Resto de papos e gargalhadas
Respingados na mesa
Sou um restante
Uma lua minguante
Uma restinga de vida
Ainda lateja no que sobra
Do peito meu
Em restauração
Ainda resta um pedaço da noite
E lá vem o sol tentar suprir,
Resplandecer o que falta
Do rés da madrugada
Resoluto, respiro fundo
Me ponho a caminhar
Respeitando a chegada da manhã
Depois de tudo
O que me resta da festa
É tudo aquilo que me falta
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, você?
você que é sem nome,
que zomba dos outros,
você que faz versos,
que ama, protesta?
e agora, José?
As bancas se abrem
As notícias pioram
Olho em volta
Sou resto
Todos restam
E agora, Carlos?