O MEU SILÊNCIO É UM GRITO
Ninguém me entende quando falo, nem me escutam quando me calo;
Cada gota dessa fonte, que jorra por entre as rochas;
Cada pingo que saúda com frescor, a flor que desabrocha;
Cada vulto silencioso, que anuncia o meu soluço sob estalos;
Cada centelha em estilhaço, a fugir dessa intensa tocha;
Cada ritmo estatizado, nas congelantes notas de seu embalo;
Cada amargor de dolorosa saliva, em que me entalo;
Cada inchaço promovido por meu perdido passo, a destroçar a galocha!
Ninguém se apercebe do meu gemido, ou soletra meu fonema contido;
Cada olhar seguido de mudez, mas repleto de expressão;
Cada vez que dou as costas ao confronto, onde aparento ponderação;
Cada ocasião em que somente a solidão, assiste ao meu choro aflito;
Cada campo de batalha, em que pareço infantaria sem munição;
Cada filme de final infeliz, exibido em tela que somente eu assisto;
Cada dardo pontiagudo a me ferir, aos quais aparentemente resisto;
Cada episódio mal resolvido, que se supõe fugir à minha percepção!
E prossigo calado, dizendo oceanos através de meus desertos;
Cada noite bem dormida, em que meus olhos abertos são ignorados;
Cada beijo oportunista, iludindo-se que curam meus machucados;
Cada sinalização ufanista, a julgar dirigir meus rumos incertos;
Cada olhar ludibriado, a desperceber meus olhares molhados;
Cada juízo precipitado de que cicatrizaram, meus ferimentos abertos;
Cada dia desses teatros, que permanentemente se julgam eternos;
Cada ouvido equivocado, a não perceber o grito de meus lábios fechados!