O MEU SILÊNCIO É UM GRITO

Ninguém me entende quando falo, nem me escutam quando me calo;

Cada gota dessa fonte, que jorra por entre as rochas;

Cada pingo que saúda com frescor, a flor que desabrocha;

Cada vulto silencioso, que anuncia o meu soluço sob estalos;

Cada centelha em estilhaço, a fugir dessa intensa tocha;

Cada ritmo estatizado, nas congelantes notas de seu embalo;

Cada amargor de dolorosa saliva, em que me entalo;

Cada inchaço promovido por meu perdido passo, a destroçar a galocha!

Ninguém se apercebe do meu gemido, ou soletra meu fonema contido;

Cada olhar seguido de mudez, mas repleto de expressão;

Cada vez que dou as costas ao confronto, onde aparento ponderação;

Cada ocasião em que somente a solidão, assiste ao meu choro aflito;

Cada campo de batalha, em que pareço infantaria sem munição;

Cada filme de final infeliz, exibido em tela que somente eu assisto;

Cada dardo pontiagudo a me ferir, aos quais aparentemente resisto;

Cada episódio mal resolvido, que se supõe fugir à minha percepção!

E prossigo calado, dizendo oceanos através de meus desertos;

Cada noite bem dormida, em que meus olhos abertos são ignorados;

Cada beijo oportunista, iludindo-se que curam meus machucados;

Cada sinalização ufanista, a julgar dirigir meus rumos incertos;

Cada olhar ludibriado, a desperceber meus olhares molhados;

Cada juízo precipitado de que cicatrizaram, meus ferimentos abertos;

Cada dia desses teatros, que permanentemente se julgam eternos;

Cada ouvido equivocado, a não perceber o grito de meus lábios fechados!

Reinaldo Ribeiro
Enviado por Reinaldo Ribeiro em 06/04/2008
Reeditado em 24/07/2008
Código do texto: T933577
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